sábado, 5 de setembro de 2009

Ana Beatriz Barbosa Consultora de novela diz que psicopata é incurável e esquizofrênico tem cura

A maldade e a frieza da psicopata Yvone (Letícia Sabatella), personagem da novela Caminho das Índias, habita entre nós, na vida real. A cada 25 pessoas, uma é perversa, desprovida de culpa e capaz de passar por cima de qualquer ser humano para satisfazer os próprios interesses. Os psicopatas são 4% da população. E não há cura para eles.

Quem afirma isso é a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, que é consultora da novela e ajudou a construir a personagem Yvone. A autora Glória Perez se inspirou em um livro da médica, "Mentes Perigosas – o psicopata mora ao lado", que já vendeu mais de 120 mil exemplares.
Para Ana Beatriz, o grande desafio da novela é fazer a distinção entre o psicopata (Yvone) e o psicótico (Tarso, representado por Bruno Gagliasso), também chamado de esquizofrênico.

Segundo a médica, a diferença principal é que o primeiro tem um déficit no campo das emoções, é incapaz de sentir amor ou compaixão e é indiferente em relação ao próximo; já o esquizofrênico, é o oposto: ele tem afeto em excesso, é extremamente sensível e, "de tanto sentir e não se expressar, ele enlouquece". E para a loucura, há tratamento. 

"O psicopata não enlouquece nunca, pois ele não tem afeto. Ele não é capaz de se botar no lugar do outro e tentar sentir a dor que ele provocou. Mas o problema dele não é cognitivo, a razão funciona bem e ele tem a capacidade plena de distinguir o que é certo e o que é errado. Ele tem certeza que está infringindo a lei, mas não se importa com isso e até calcula os danos para saber o custo-benefício da ação", explica a psiquiatra.

Tratamento da esquizofrenia

A psiquiatra acredita que a principal mensagem da novela é que a esquizofrenia tem cura e precisa ser tratada com rapidez. Após o primeiro surto, 80% dos pacientes se curam; no segundo surto, são 50% os que se curam; e após três surtos, 30% dos pacientes são curados.

"Quando surge o primeiro surto, as pessoas levam muito tempo para procurar ajuda e negam a doença. A grande mensagem da novela é essa: busquem ajuda", disse.

Ela afirmou ainda que o tratamento, em qualquer caso, tem que ser feito até o fim da vida.

Psicopatas nascem psicopatas

De acordo com a consultora de Caminho das Índias, o psicopata já nasce com uma predisposição genética à manifestação desse tipo de comportamento de indiferença afetiva : "O sistema emocional do psicopata vem desconectado e não conecta novamente. Não tem cura até o momento".

 Foto: Sandra Lopes / Dviulgação

Foto: Sandra Lopes / Dviulgação

Mas a psiquiatra afirmou que essa manifestação pode ser aumentada ou diminuída:

"Se você tem uma sociedade que tolera desrespeito, preconceito, tiranias, injustiças, violências, isso acaba fomentando que psicopatas que manifestem mais. Se tem uma sociedade de tolerância zero, a tendência é reduzir essa manifestação. Uma pessoa não vira psicopata. Ela vai manifestando ao longo da vida". 

A impunidade alimenta a psicopatia

Segundo Ana Beatriz, os países mais capitalistas tendem a revelar maior número de psicopatas. Para ela, a recente crise econômica que abateu o sistema foi uma "crise de valores psicopáticos". Assim como os desvios de verbas e corrupções que afligem o Brasil e a impunidade diante de tais escândalos.

"Desvio de merenda escolar, por exemplo, isso atinge milhares de pessoas, são crianças que ficam sem estudar. Superfaturamento ou desvio de verba de medicamentos, todas são atitudes francamente psicopaticas", exemplifica, argumentando que os responsáveis por tais ações sabem que milhares de pessoas serão prejudicadas, ou seja, usam a razão e atuam sem qualquer sentimento.

A médica lembra que esses casos não entram em fichas policias, mas são tão graves quanto um assassinato: "As pessoas associam psicopatia com assassinato, mas a maioria dos psicopatas não mata". 

Níveis de psicopatas

Ana Beatriz afirmou que há três níveis de psicopatas: o leve, que aplica os famosos golpes 171 (estelionato ou fraude) e atinge uma pessoa; o moderado, que aplica o mesmo golpe, porém em uma esfera social mais alta (como o superfaturamento na compra de remédios para o sistema de saúde pública) e acaba lesando milhares de pessoas; e o grave, que seria o serial killer, o assassino para quem não basta matar, tem que haver atos de crueldade. Esse último tipo, porém, é raro. 

Dos 4% de psicopatas da população, 1% é grave e 3% são leves e moderados. A personagem Yvone, por exemplo, é uma psicopata de nível médio, pois ela sempre lesa uma só pessoa, nunca um grande sistema, e não é capaz de matar.

Segundo a médica, o grande tratamento para os psicopatas "é a postura que temos com essa pessoa". A grande arma da sociedade, segundo a médica, é não tolerar a impunidade.No G1

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